domingo, 28 de fevereiro de 2010

Verbete: Memória

O cheiro afável ficou em sua lembrança. Não se lembrava de mais nada, a não ser das luzes (que faziam a gente ficar cada mais mais bêbados) e das pessoas gritando ao redor daqueles dois loucos. Vivia naquela adrenalina e lembrava das cenas daquela noite como se fosse um sonho.
Meses depois, conversavam sobre como queriam viver suas vidas em um filme em que seriam os atores principais, para poderem se rever em cada momento daquela memória esquecida. O que ficou embaçado. Play. Stop. Pause.
''Não era assim que eu me recordava! Eu não me lembrava de ter dito aquilo!''
''Caracas, que legal, eu não me lembro disso!''
Memórias que pouco importavam aos outros, mas que preciosas para eles, que tentavam, a todo custo, recuperar todos os detalhes daquela festa.
Mas já chega mais uma cerveja, mais um olhar distraído, mais uma história a ser contada.
Logo, esta será esquecida também...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Medidor de humor.

''É muito fácil saber quando você está bravo... Você corre!''

Era, de fato, muito fácil saber como ele se sentia. Bastava olhar para velocímetro de seu carro discretamente vermelho.
A velocidade dos pneus girando eram proporcionais à velocidade de seus pensamentos e de seus desejos imediatos
.
A volta pra casa era sempre rápida, principalmente durante as madrugadas, quando pareciam que as ruas eram só dele. Um dia, chegou a atingir 170 quilômetros por hora!
Sentia o carro trepidar, perdendo a estabilidade... Mas como era bom sentir aquele vento frio no rosto e chegar em casa em apenas 15 minutos!

Nos dias que ele levava sua namorada para casa, o humor mudava. A única coisa que importava era fazer com que as conversas durante o caminho durassem mais. Mais uma risada, mais uma história alegre, mais um cafuné envergonhado no motorista... Naqueles dias, o velocímetro não marcava mais que 80 km/h. A não ser dos dias que a namorada passava mal ao seu lado, o surpreendendo com uma dor-de-barriga-desesperada que o fizesse fazer curvas à 100km/h e ultrapassar o que estivesse à sua frente. Mas quando ela bebia demais, ele tinha o máximo de cuidado para não tornar a viagem pior com movimentos repentinos, nem fazer com que a velocidade trouxesse problemas desagradáveis. Seu máximo era 60km/h.

A hora das discussões também eram momentos tensos. Principalmente para ele, que não buzinava, não gritava, não brigava. O silêncio trazia um constrangimento tamanho àquele casal tagarela. Nesses dias, tudo que eles queriam era que o tempo passasse mais rápido, levando o silêncio embora. A 110km/h, só se ouvia o barrulho do motor.

No dia seguinte de manhã, tinha apenas o rádio como companheiro. Notícias, músicas e 80 km/h para tornar o dia na faculdade mais agradável.
E logo vinha a namorada para fazê-lo correr para fumar...